Como a doença reumática afeta a fertilidade?
Entenda os cuidados necessários para uma maternidade sem susto
Um dos grandes mitos em relação às doenças reumáticas é a crença de que elas afetam apenas idosos. Quem pensa isso não poderia estar mais enganado: de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, boa parte dos casos ocorre em homens e mulheres entre 35 e 40 anos.1
Pesquisas mostram que, nessa faixa etária, é cada vez mais comum que mulheres concebam um filho. Na última década, segundo o IBGE, o aumento de gravidez entre mulheres de 35 a 39 anos foi de 63%.2
Ainda que não existam dados que estabeleçam o número de mães com alguma doença reumática, sabemos que não é algo raro de ocorrer. Mas o que acontece em casos assim? Quais cuidados são necessários? A doença pode piorar durante a gravidez?
Para esclarecer essas e outras dúvidas importantes, elencamos, abaixo, os principais pontos de atenção para as mulheres que possuem uma doença reumática e desejam ser mães. Desde já, adiantamos: é preciso estar ciente que uma doença reumática pode trazer alguns desafios que vão exigir cuidados adicionais tanto para mulheres que querem engravidar quanto para aquelas que já estão grávidas.
Sim, uma mulher com doença reumática pode, sim, ser mãe. Existem, porém, muitos cuidados que a mãe deve tomar. No caso de uma gravidez planejada, é possível prever as maiores dificuldades e, na maior parte do tempo, superá-las.3
Antes da concepção, é importante que a paciente saiba que a gravidez com uma doença reumática é considerada de alto risco, isto é, há maiores chances de complicações como parto prematuro, recém-nascido pequeno para a idade gestacional e até a perda do bebê.4
Para que os riscos sejam menores e a gravidez seja a mais segura possível, é fundamental que a paciente faça todo o planejamento com o seu médico reumatologista.3
Nas consultas, o reumatologista deve aconselhar sobre lactação, medicamentos, preservação da fertilidade e terapia de reposição hormonal. É recomendado também que ele colabore com especialistas nas áreas de obstetrícia-ginecologia, medicina materno-fetal e endocrinologia reprodutiva e infertilidade. O acompanhamento, afinal, deve ser conjunto.5
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia e o American College of Rheumatology, um dos requisitos para uma gravidez segura é que a concepção ocorra durante um período em que a doença reumática estiver sob controle. Sabe-se que, durante a gestação, quanto melhor controlada a doença estiver — quanto menor o número de juntas dolorosas ou inchadas, por exemplo —, menor o risco do bebê nascer com baixo peso ou prematuro.3,5
Em alguns casos, sobretudo em pacientes com fertilidade baixa, o reumatologista pode aconselhar a preservação de óvulos e a fertilização in vitro.5
É muito raro que uma paciente de doença reumática possa deixar de usar os remédios durante a gravidez. O problema é que nem todos os remédios são seguros para mulheres nos períodos de gestação e lactação. Isso requer uma atenção especial do reumatologista para que ele recomende a medicação adequada para cada caso.5
Segundo a diretriz de 2020 do American College of Rheumatology, mulheres grávidas com doenças reumáticas devem interromper o uso de metotrexato, leflunomida, ácido micofenólico, ciclofosfamida e talidomida até três meses antes da concepção.5
O documento também indica que o uso de hidroxicloroquina, sulfassalazina, azatioprina/6-mercaptopurina e colchicina são seguros durante toda a gravidez de mulheres com doença reumática.5
A diretriz do American College of Rheumatology de 2020 sugere que as mulheres com doenças reumáticas devem ser encorajadas a amamentar se desejarem e puderem.5
Quando a mãe amamenta é essencial que o controle da doença seja mantido por meio de medicamentos compatíveis com a lactação e que os riscos e benefícios sejam revistos paciente a paciente.5
Ainda de acordo com a mesma diretriz, o tratamento com hidroxicloroquina, colchicina, sulfasalazina, rituximabe e todos os inibidores do fator de necrose tumoral são compatíveis com a amamentação.5
Sim, há risco. Sabe-se que muitas das doenças reumáticas são mais comuns entre pessoas da mesma família. Mas a genética não é o único fator. A artrite reumatoide, por exemplo, é uma doença complexa que é influenciada por fatores genéticos, ambientais e autoimunidade. Estima-se que cerca de 60% da susceptibilidade à ela seja herdada geneticamente.3,6
Por depender de muitos fatores, é impossível prever a presença ou não de uma doença reumática. Isso significa que, caso haja parentes com uma doença reumática, deve-se ficar atento aos sintomas e procurar o médico reumatologista precocemente em caso de dúvida.3
Uma das recomendações médicas é que as mulheres evitem a gravidez caso suas doenças reumáticas não estejam controladas. A razão mais importante para isso é evitar o agravamento da atividade da doença, que pode prejudicar a rotina da mãe e resultar em efeitos adversos na gravidez, como a perda gestacional, a prematuridade grave, a restrição de crescimento e a má formação do feto (teratogênese).5
Assim, para que as mulheres férteis com a doença possam ter relações sexuais sem o risco de gravidez, a indicação do American College of Rheumatology é adotar métodos contraceptivos eficazes. Além do uso da camisinha por parte dos parceiros, as mulheres podem adotar o DIU ou um implante contraceptivo subdérmico de progestina.5
É possível. No caso da artrite reumatóide, a dor e o inchaço das juntas podem apresentar melhora espontânea durante o período gestacional, mas os sintomas costumam piorar nos primeiros seis meses após o nascimento do bebê. Quando isso ocorre, a paciente deve procurar o médico reumatologista para saber o que é possível fazer em seu caso.3
O primeiro passo é consultar um médico reumatologista. Ele vai definir os melhores cuidados junto de uma equipe de especialistas, que podem incluir obstetras, ginecologistas, profissionais de medicina materno-fetal e endocrinologistas, entre outros.3,5
Como o caso de gravidez com uma doença reumática não-controlada apresenta muitos riscos, o acompanhamento médico deve ser feito de perto e com o envolvimento conjunto de profissionais de saúde capacitados.5
Referências
Sociedade Brasileira de Reumatologia. "30/10: Dia Nacional de Alerta para Doenças Reumáticas (Reumatismos)". Disponível em: https://www.reumatologia.org.br/noticias/30-10-dia-nacional-de-alerta-para-doencas-reumaticas-reumatismos/. Acesso em: 28 de junho de 2023.
CNN Brasil. "Mulheres engravidam cada vez mais tarde no Brasil, diz IBGE". Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/mulheres-engravidam-cada-vez-mais-tarde-no-brasil-diz-ibge/. Acesso em: 30/06/2023
Cartilha de orientação para artrite reumatóide. São. Paulo, Comissão de Artrite Reumatoide, 2011. Disponível em https://www.reumatologia.org.br/cartilhas/ Acesso em 04/05/2023
H Eisfeld, AM Glimm, GR Burmester, S Ohrndorf & M Backhaus (2021) Pregnancy outcome in women with different rheumatic diseases: a retrospective analysis, Scandinavian Journal of Rheumatology, 50:4, 299-306, DOI: 10.1080/03009742.2020.1849788
Sammaritano LR, Bermas BL, Chakravarty EE, Chambers C, Clowse MEB, Lockshin MD, Marder W, Guyatt G, Branch DW, Buyon J, Christopher-Stine L, Crow-Hercher R, Cush J, Druzin M, Kavanaugh A, Laskin CA, Plante L, Salmon J, Simard J, Somers EC, Steen V, Tedeschi SK, Vinet E, White CW, Yazdany J, Barbhaiya M, Bettendorf B, Eudy A, Jayatilleke A, Shah AA, Sullivan N, Tarter LL, Birru Talabi M, Turgunbaev M, Turner A, D'Anci KE. 2020 American College of Rheumatology Guideline for the Management of Reproductive Health in Rheumatic and Musculoskeletal Diseases. Arthritis Rheumatol. 2020 Apr;72(4):529-556. doi: 10.1002/art.41191. Epub 2020 Feb 23. PMID: 32090480.
Kurkó J, Besenyei T, Laki J, Glant TT, Mikecz K, Szekanecz Z. Genetics of rheumatoid arthritis - a comprehensive review. Clin Rev Allergy Immunol. 2013 Oct;45(2):170-9. doi: 10.1007/s12016-012-8346-7. PMID: 23288628; PMCID: PMC3655138.
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