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Desinformação impacta a vacinação dos pacientes mais vulneráveis
Desinformação impacta a vacinação dos pacientes mais vulneráveis

Pesquisa aponta que unidades especiais destinadas a pessoas com fragilidades imunológicas são pouco conhecidas no País 

15/09/2020

Desde 2002, cada Estado brasileiro conta com pelo menos uma unidade dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE)1, um serviço gratuito oferecido pelo SUS a pessoas que, por apresentarem fragilidades imunológicas ou doença crônica, têm direito a um calendário mais amplo de vacinas em relação ao disponibilizado para a população em geral pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Algumas barreiras, porém, dificultam o acesso do brasileiro a esse serviço: muitos médicos não encaminham seus pacientes de risco para esses locais e, do ponto de vista da população assistida, um percentual significativo opta por não se vacinar em uma unidade dos CRIE, mesmo quando recebe encaminhamento profissional. Essas são algumas das constatações de uma pesquisa inédita realizada pelo Insituto Ipsos, a pedido da Pfizer2

Para traçar o cenário complexo que envolve o serviço oferecido pelas unidades dos CRIE, foram ouvidas todas as partes que integram esse processo: médicos que tratam pacientes de risco, os gestores dessas unidades e os próprios usuários do serviço (considerando pessoas que apresentam pelo menos uma das seguintes condições: doença renal, ausência de baço, câncer, diabete, síndrome de Down, HIV, transplante, doenças pulmonares crônicas ou enfermidades reumáticas). A partir de 280 entrevistas quantitativas e 44 qualitativas, o levantamento aponta algumas dificuldades que permeiam os três grupos ouvidos, constituindo um panorama geral de desconhecimento em relação aos CRIE. A pesquisa tem margem de erro de 6 pontos percentuais para a fase quantitativa e 14,8 na fase qualitativa.

Se por um lado 21% dos médicos entrevistados afirmam que nunca ouviram falar sobre os CRIE, em outra perspectiva muitos pacientes ainda demonstram, de modo geral, um sentimento de desconfiança em relação às vacinas: 28% deles consideram a imunização muito importante, mas dizem que têm receio na hora de atualizar a carteira de vacinação. “A desinformação existe em diferentes esferas. Falta promover os CRIE no meio médico, mas também é preciso dissipar os mitos e as dúvidas que ainda provocam insegurança no paciente. Os dados da pesquisa mostram que 80% daqueles que não se imunizaram contra a pneumonia, por exemplo, não o fizeram porque desconheciam a vacina e não receberam nenhuma recomendação sobre ela”, observa a diretora médica da Pfizer, Márjori Dulcine.

A percepção dos gestores dos CRIE ouvidos durante a pesquisa reforça que a falta de informação se apresenta como um gargalo importante entre os serviços dos CRIE e a adesão da população. Para 100% desses entrevistados, as campanhas impulsionam a demanda nas unidades nesses centros, sobretudo no caso da proteção contra a gripe. Por outro lado, grande parte desses profissionais, ou 50% da amostra, afirma que não é realizado um trabalho contínuo de divulgação do serviço junto à população e à classe médica. De fato, entre os médicos que conhecem os CRIE, a informação é longínqua: advinda da faculdade, da residência, ou a partir de menções de colegas. 

Os gestores dos CRIE também destacam o perfil heterogêneo desses centros de referência: há muitas especialidades médicas envolvidas, bem como uma variedade grande de patologias atendidas, cada qual com uma jornada própria. Essas diferenças aparecem na fase qualitativa da pesquisa, em que dois grupos de pacientes se destacam: aqueles que tendem a apresentar maior ligação com o SUS, como pessoas que vivem com HIV e transplantados, porque geralmente se tratam em grandes centros de referência ligados à rede pública, e outros que se encontram mais distantes do serviço público, como os oncológicos, reumáticos e diabéticos. 

“No caso especial da oncologia, o foco na urgência do tratamento acaba, muitas vezes, se sobrepondo às necessidades de imunização. Por outro lado, infectologistas, hematologistas e pneumologistas aparecem, na pesquisa, como as especialidades que mais conhecem os CRIE e, também, as que estão mais engajadas na imunização desses pacientes de risco”, comenta Márjori. Foram ouvidos médicos que tratam pacientes de risco, considerando as seguintes especialidades: pediatras, endocrinologistas, hematologistas, reumatologistas, infectologistas, nefrologistas, oncologistas e pneumologistas. 

Quando questionados sobre os principais destinos, em uma questão para a qual o profissional podia escolher mais de uma alternativa, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) aparecem em primeiro lugar, seguidas dos serviços privados de vacinação. Vale destacar que as UBS, contudo, não contemplam todas as opções oferecidas pelos CRIE para esse perfil de paciente de risco. Por outro lado, elas devem ser procuradas pelo paciente quando não há um CRIE em sua cidade. “Como existe um numero limitado de CRIEs no Brasil as UBS também tem um papel muito importante na vacinação do paciente de risco. O paciente, com encaminhamento em mãos, pode procurar a UBS mais próxima ou a própria secretaria de vigilancia epidemiológica da cidade, que irão solicitar a vacina e garantir que ela chegue ao paciente.”, destaca Márjori.

Adesão

A pesquisa também indica que 36% dos médicos ouvidos não estão encaminhando seus pacientes especiais para os CRIE. Mas, mesmo quando a recomendação médica é feita, um novo problema se destaca: a resistência da própria população. Segundo os médicos, apenas 68% dos pacientes que são encaminhados chegam a se vacinar nesses centros. No caso da proteção contra a pneumonia, em âmbito geral, os profissionais afirmam que  71% de seus pacientes efetivamente se vacinam após a prescrição, o que significa que parte significativa deles permanece vulnerável a uma doença grave, responsável por elevadas taxas de hospitalização e morte em todo o mundo3.

Falta informação

Outros dados do levantamento ajudam a explicar o porquê das falhas de adesão, mesmo quando existe o encaminhamento médico. Os resultados da fase qualitativa apontam que existe uma percepção equivocada em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), rotulado como um atendimento de baixa qualidade por aqueles que ainda não receberam um diagnóstico. “Mas, quando o indivíduo está realmente inserido no programa para pacientes especiais e inicia o seu tratamento, a pesquisa mostra que essa percepção muda: o atendimento é considerado eficiente e pontual, recebendo elogios dos entrevistados”, destaca Márjori. 

Referências:
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