Como saber se o que tenho é uma Doença Inflamatória Intestinal?
Saiba quais são os sinais e sintomas das DIIs que alertam para a necessidade de atendimento médico especializado
A princípio, não parece nada demais. Quem sabe a dor abdominal e a diarreia tenham sido causadas por um alimento que não caiu bem ou até mesmo por uma virose. A persistência desses sintomas por mais de quatro semanas, porém, combinada a outros sinais, como fadiga e perda de peso, podem indicar a presença de algum tipo de Doença Inflamatória Intestinal (DII).1-5
Estas alterações no estado de saúde sugerem que é o momento de buscar atendimento médico para investigar as possíveis causas e tratamentos necessários.1
Segundo a Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite (GEDIIB), as DII são doenças crônicas e recorrentes que provocam inflamação no trato gastrointestinal.2
As mais comuns são a Retocolite Ulcerativa (RCU), que aparece de forma localizada no intestino grosso, e a Doença de Crohn (DC), que pode ocorrer em qualquer ponto do trato digestivo, da boca até o ânus. Há casos, inclusive, em que a DC afeta somente o intestino grosso, o que pode causar confusão no diagnóstico.2
Qualquer pessoa, de qualquer idade, pode ter DIIs, mas elas costumam aparecer com maior frequência na faixa etária dos 15 aos 35 anos. Apesar de as causas serem desconhecidas, estima-se que cerca de 20% dos portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais tenham alguém na família com essa condição. Ou seja, ela pode ser transmitida de pais para filhos.2
Segundo os especialistas da GEDIIB, entretanto, a herança genética é apenas um dos fatores que impactam no desenvolvimento das DII. Desregulações no sistema imune, alterações no meio ambiente e mudanças na flora intestinal também devem ser considerados. Isso porque, por alguma razão desconhecida, as Doenças Inflamatórias Intestinais se manifestam quando as células de defesa do organismo iniciam uma agressão descontrolada ao intestino.3
De acordo com um estudo recente, a proporção de pacientes de DII no Brasil está dividida entre:
Retocolite Ulcerativa (51%)
Doença de Crohn (48%)
Colite indeterminada (0.9%).4
Entre os principais sinais e sintomas que indicam o desenvolvimento de Doenças Inflamatórias Intestinais, desde quadros leves até os mais graves, estão:2-5
Dor abdominal e alterações no hábito intestinal, o que inclui constipação ou diarreia por mais de 4 semanas: além da persistência das dores e diarreia, em alguns casos é possível observar a presença de sangue ou catarro nas fezes.
Fadiga e cansaço frequentes.
Perda de peso não intencional (5% do peso habitual) nos últimos três meses.
Urgência para evacuar.
Lesões na região do ânus de difícil cicatrização.
Além destes sintomas e sinais característicos das DIIs, em 25% a 40% dos pacientes eles podem ser acompanhados pelas chamadas manifestações extraintestinais (MEIs), que ocorrem nos olhos, articulações, pele, ossos, rins e fígado.1
Ter um diagnóstico preciso é essencial para a indicação do tratamento apropriado. Ele deve ser feito por um médico gastroenterologista, que é o especialista no sistema digestório. No processo, o profissional solicitará os testes necessários que ajudarão a identificar se é Doença de Crohn, Retocolite Ulcerativa ou colite indeterminada.1
Alguns dos procedimentos podem ser invasivos, ou seja, realizados dentro do corpo, outros, não. Entre eles podemos listar:1
Histórico do paciente e exame físico: na consulta inicial, o médico fará perguntas sobre os sintomas e o histórico médico e familiar do paciente. Ele também realizará um exame físico, incluindo inspeção do reto e ânus. De acordo com os resultados, ele deverá solicitar testes adicionais.
Exames de sangue e fezes: podem ser realizados para detectar sinais de inflamação no corpo, como a proteína C reativa (PCR), entre outros biomarcadores.
Exames endoscópicos: procedimentos como a colonoscopia e a sigmoidoscopia, que investigam o cólon, reto e cólon sigmoide, podem ser solicitados para a detecção de anormalidades nestas regiões. Outros exames incluem ultrassonografia, endoscopia e raio-x.
Biópsia: a partir de uma amostra de tecido coletada nas áreas inflamadas do intestino do paciente, o médico patologista avaliará características que ajudam a determinar se é DII e qual o tipo, além de detectar a eventual presença de alterações pré-cancerígenas ou cancerígenas.
Pacientes portadores de algum tipo de Doença Inflamatória Intestinal podem desenvolver outras doenças chamadas comorbidades. Estas não precisam necessariamente estar ligadas às DIIs.6
Entre as comorbidades que podem afetar pacientes de DIIs estão:6
Inflamação das articulações (artrite)
Doenças dermatológicas (eritema nodoso e pioderma gangrenoso), aftas orais
Inflamações nos olhos (uveíte, episclerite e blefarite)
Problemas hepáticos (colangite esclerosante primária)
Obesidade
Problemas cardiovasculares (trombose venosa, aterosclerose)
Problemas psicológicos (alterações de humor, ansiedade)
Apesar da possibilidade de desenvolvimento de comorbidades, não significa que os pacientes diagnosticados com DIIs irão desenvolvê-las. Caso elas apareçam, o paciente deve buscar orientação médica e tratamento adequado.
A partir do diagnóstico, o médico gastroenterologista vai indicar o tratamento adequado para cada paciente. Junto a um monitoramento atento, é possível ter qualidade de vida e reduzir a probabilidade de desenvolvimento de comorbidades.1-7
A nova rotina envolverá a observação de sinais da doença, assim como alterações nos sintomas e identificar possíveis efeitos colaterais da terapia recomendada. Consultas e exames regulares também serão necessários a partir desta fase.1
Grupos de apoio, como a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD) e a DII Brasil, oferecem suporte e informação aos pacientes e cuidadores, por meio da troca de experiências, ações de educação continuada, eventos e parcerias.
Referências:
Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD). Diagnosticando e monitorando a DII. <https://abcd.org.br/wp-content/uploads/2019/07/ABCD_cartilha_diagnosticando.pdf>. Acesso em 17 de março de 2023.
Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB. Sobre DII. <https://gediib.org.br/sobre-dii/>. Acesso em 17 de março de 2023.
Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB. Cartilha O paciente de Doença Inflamatória Intestinal. <https://gediib.org.br/wp-content/uploads/2020/04/cartilha-Pacientes.pdf>. Acesso em 17 de março de 2023.
R Froes, A R Andrade, M A G Faria, R S Parra, C Zaltman, H S P Souza, C H M D S Santos, M Bafutto, A B Quaresma, G O Santana, R L Rafael Luís Luporini, S F D Lima Junior, S J Miszputen, M M D Souza, G S P Herrerias, R L Kaiser Junior, C R D Nascimento, O Féres, J R D Barros, C D S Guimarães, L Y Sassaki, R Saad-Hossne, P831 Clinical factors associated with severity in patients with Inflammatory Bowel Disease in Brazil (On Behalf of GEDIIB), Journal of Crohn's and Colitis, Volume 17, Issue Supplement_1, February 2023, Page i963, https://doi.org/10.1093/ecco-jcc/jjac190.0961
Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB. Folder Pode ser DII. <https://gediib.org.br/wp-content/uploads/2022/05/Folder-pode-ser-dii-internet-1.pdf>. Acesso em 17 de março de 2023.
Román AL, Muñoz F. Comorbidity in inflammatory bowel disease. World J Gastroenterol. 2011 Jun 14;17(22):2723-33. doi: 10.3748/wjg.v17.i22.2723. PMID: 21734780; PMCID: PMC3122260.
Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD). Diagnóstico precoce e decisão compartilhada são fundamentais. 07/12/2022 <https://www.abcd.org.br/blog/artigos/diagnostico-precoce-e-decisao-compartilhada-sao-fundamentais/>. Acesso em 17 de março de 2023
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