A história e os avanços no tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais
O que mudou desde os primeiros relatos das DIIs e a importância do Maio Roxo para a conscientização
Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) é o nome dado às inflamações crônicas e recorrentes que afetam o trato gastrointestinal, entre elas a Retocolite Ulcerativa e a Doença de Crohn. Estima-se que a condição atinja hoje cerca de 10 milhões de pessoas no mundo inteiro, segundo dados da Federação Europeia das Associações de Doença de Crohn e Colite Ulcerativa (EFCCA).1
Para conscientizar a população sobre as DIIs e a importância do diagnóstico precoce, desde 2010 é celebrado em 19 de maio o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais. Ao longo de todo o mês, denominado Maio Roxo, são realizados diversos eventos que ajudam a divulgar os sintomas e formas de tratamento da doença.2
A campanha acontece simultaneamente em mais de 50 países, sob a coordenação da EFCCA. No Brasil, a organização-irmã da EFCCA é a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD).2-3
O número de casos de DII teve um aumento anual de 14,87%, entre 2012 e 2020.4
O brasileiro pode levar até 62 meses para obter um diagnóstico definitivo de DII.5
Iniciativas como o Maio Roxo são importantes para mostrar que é possível ter qualidade de vida apesar das DIIs. Hoje a condição conta com diversas abordagens de tratamento, que vão desde opções de medicamentos até cirurgia. Mas nem sempre foi assim.6-7
Relatos médicos de diarreia crônica podem ser encontrados desde a Grécia Antiga, mas não há consenso entre os pesquisadores sobre o diagnóstico de DII. Foi só em 1859 que o médico Samuel Wilks criou o termo "Colite Ulcerativa" para descrever, de forma genérica, a inflamação crônica no trato gastrointestinal.6
O reconhecimento da Doença de Crohn como uma condição biologicamente separada da Colite Ulcerativa ocorreria apenas em 1932, a partir de um artigo publicado no jornal da Associação Médica Americana.6
Foram necessárias mais duas décadas de pesquisas para entender que a Doença de Crohn pode ocorrer em qualquer ponto do trato digestivo, da boca até o ânus, enquanto o que hoje conhecemos como Retocolite Ulcerativa aparece de forma localizada no intestino grosso.6-7
Embora a causa das Doenças Inflamatórias Instestinais seja desconhecida, diversas hipóteses foram levantadas por pesquisadores ao longo da história. Surgiu de tudo um pouco: de alergias alimentares até uma predisposição psicológica, passando pelo envolvimento da autoimunidade, ou seja, uma resposta do sistema de defesa do corpo contra o próprio organismo.8
O papel da genética como peça-chave para o desenvolvimento das DIIs só ficou evidente a partir de 1999, quando estudos populacionais confirmaram o aumento nas ocorrências desta condição em familiares até terceiro grau de pacientes diagnosticados.8
O que se sabe hoje é que, além da herança genética, outras hipóteses levantadas anteriormente contribuem para o desenvolvimento das Doenças Inflamatórias Intestinais. Entre os fatores que levam as células de defesa do organismo a iniciar uma agressão descontrolada ao intestino estão hábitos pessoais e alimentares, alterações no meio ambiente e mudanças na flora intestinal.9
No início do século 20, as alternativas de tratamento para as DIIs eram bastante limitadas. No caso da colite, a recomendação médica aos pacientes se resumia a repouso absoluto e irrigação do cólon. Durante alguns anos, vacinas foram testadas, mas não obtiveram sucesso. Novas descobertas levaram à adoção de medicamentos, que alcançaram resultados positivos.8
Atualmente, há diversas opções de tratamento que ajudam a minimizar os sintomas e contribuem com a remissão da DII, possibilitando que o paciente tenha melhor qualidade de vida. As orientações são feitas pelo médico gastroenterologista, que no diagnóstico avalia sintomas, localização da inflamação, gravidade e extensão da doença, além do histórico de recursos terapêuticos utilizados anteriormente e a resposta a eles.7
A prescrição de medicamentos é individual e pode ser feita apenas pelo especialista. Entre os tipos de remédios mais comuns estão os aminossalicilatos, corticosteroides, imunossupressores, antibióticos e a terapia biológica, que são fármacos desenvolvidos pela engenharia genética que bloqueiam substâncias essenciais para a instalação da doença.7
Em casos mais graves, a doença pode resultar em perfuração intestinal, fístulas e abscessos, entre outras complicações. Nestas situações, é possível que o gastroenterologista recomende o tratamento cirúrgico, com intervenções para a limpeza da região, drenagem ou até retirada do segmento inflamado.7
Além das alternativas tradicionais de tratamento, outras alternativas têm sido pesquisadas. Novos medicamentos estão em estudo, assim como o transplante de células-tronco. Há também outras recomendações importantes, como:7-10
Adoção de uma dieta saudável, respeitando as necessidades nutricionais individuais7-10
Durante crises de diarreia e cólica abdominal, pode ser necessário evitar alimentos ricos em fibras, frituras e fermentados7-10
Evitar o uso de tabaco e álcool, pois agravam os sintomas7-10
Praticar atividade física, uma vez que o sedentarismo é um dos fatores de risco7-10
Buscar alternativas para lidar com o estresse7-10
Na prática, isso significa que o tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais deve envolver uma equipe multidisciplinar. Além do gastroenterologista, os pacientes também necessitam do acompanhamento de nutricionistas, educadores físicos e psicólogos, que podem contribuir bastante com a melhora na qualidade de vida após o diagnóstico.11
Referências
European Federation of Crohn's & Ulcerative Colitis Associations. What is IBD? Disponível em: https://efcca.org/content/what-ibd. Acesso em 06 de abril de 2023.
European Federation of Crohn's & Ulcerative Colitis Associations. World IBD Day. <https://worldibdday.org/>. Acesso em 06 de abril de 2023.
European Federation of Crohn's & Ulcerative Colitis Associations. About Us. <https://worldibdday.org/about-us>. Acesso em 06 de abril de 2023.
A B Quaresma, A O M C Damiao, C S R Coy, D O Magro, D A Valverde, R Panaccione, S B Coward, S C Ng, G G Kaplan, P G Kotze, DOP41 Temporal Trends in the epidemiology of Inflammatory Bowel Diseases in the public healthcare system in Brazil: A large population-based study, Journal of Crohn's and Colitis, Volume 15, Issue Supplement_1, May 2021, Pages S079–S080, https://doi.org/10.1093/ecco-jcc/jjab073.080
Cury DB, Oliveira R, Cury MS. Inflammatory bowel diseases: time of diagnosis, environmental factors, clinical course, and management – a follow-up study in a private inflammatory bowel disease center (2003–2017). J Inflamm Res. 2019;12:127-135 https://doi.org/10.2147/JIR.S190929
Daniel J. Mulder, Angela J. Noble, Christopher J. Justinich, Jacalyn M. Duffin, A tale of two diseases: The history of inflammatory bowel disease, Journal of Crohn's and Colitis, Volume 8, Issue 5, 1 May 2014, Pages 341–348, https://doi.org/10.1016/j.crohns.2013.09.009
Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB. Cartilha Diagnóstico e Tratamento. <https://gediib.org.br/wp-content/uploads/2022/04/Cartilha-Diagnostico-e-Tratamento-da-Doenca-Inflamatoria-Intestinal-1.pdf>.
Actis GC, Pellicano R, Fagoonee S, Ribaldone DG. History of Inflammatory Bowel Diseases. J Clin Med. 2019 Nov 14;8(11):1970. doi: 10.3390/jcm8111970. PMID: 31739460; PMCID: PMC6912289.
Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB. Cartilha O paciente de Doença Inflamatória Intestinal. <https://gediib.org.br/wp-content/uploads/2020/04/cartilha-Pacientes.pdf>.
Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB. Sobre DII. <https://gediib.org.br/sobre-dii/>. Acesso em 06 de abril de 2023.
Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD). Tratamento envolve equipe multiprofissional. 28/12/2021. <https://www.abcd.org.br/blog/artigos/tratamento-envolve-equipe-multiprofissional/>. Acesso em 06 de abril de 2023.
PP-UNP-BRA-2082