22/06/2021
O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda principal causa de mortes no Brasil e uma das mais recorrentes razões de sequelas e incapacidade no mundo. Mais de 16 milhões de pessoas são afetadas ao ano - e, destas, cerca de 6 milhões não resistem. Popularmente conhecido como AVC, a condição é mais comum em adultos mais velhos, mas a incidência em jovens e pessoas de meia idade tem crescido nas últimas décadas, o que torna ainda mais necessário o alerta sobre certos hábitos que podem influenciar esse aumento da incidência dos casos e sobre as formas de prevenção, principalmente, entre os jovens.
O AVC é uma condição que ocorre quando a circulação de sangue para o cérebro é interrompida de alguma forma, impedindo que o órgão obtenha nutrientes e oxigênio. O acidente vascular cerebral geralmente é causado por um coágulo (AVC isquêmico) ou por algum sangramento (AVC hemorrágico).
AVC isquêmico - acontece quando há a obstrução de uma artéria cerebral, que interrompe o fluxo de sangue. Geralmente é causado por tromboses ou embolias. O AVC isquêmico é o mais comum na população em geral (85% dos casos) e também entre os jovens: um estudo realizado com indivíduos de menos de 50 anos concluiu que esse tipo de acidente vascular cerebral acometeu 86% dos pacientes e era mais incidente naqueles acima de 36 anos.
AVC hemorrágico - acontece quando um vaso sanguíneo se rompe espontaneamente, causando um sangramento dentro do tecido cerebral. É o tipo de acidente vascular cerebral menos comum, mas que tende a ser mais grave.
O AVC é uma das principais causas de incapacidade em pessoas do mundo todo. Das pessoas afetadas, cerca de 70% têm algum prejuízo funcional e 30% encontram dificuldades de locomoção. Embora as sequelas não estejam diretamente relacionadas com a idade do paciente, os jovens podem sentir mudanças mais bruscas na rotina, já que costumam ser mais ativos. Por outro lado, o organismo de uma pessoa mais nova possui capacidade de reaprender funções perdidas com mais facilidade, o que especialistas chamam de neuroplasticidade. Isso permite que jovens possam se recuperar em até 100%.
Aproximadamente um quarto dos acidentes vasculares cerebrais acontecem em pessoas com menos de 65 anos. Nos anos 2000, um estudo realizado no Paraná tomou como base a incidência de 10% dos casos em pacientes com idade inferior a 55 anos e de 3,9% em pacientes com idade inferior a 45 anos.
Desde a década de 80, no entanto, esse número vem crescendo. De acordo com o Datasus, no período entre 1998 e 2007 o aumento das internações causadas por AVC em jovens de 15 a 34 anos aumentou 64% entre os homens e 41% entre as mulheres. Em 2012, o Ministério da Saúde registrou 4 mil internações por este problema entre os indivíduos abaixo de 45 anos no Brasil.
No país, o número de mortes anuais causadas por acidente vascular cerebral chega a cerca de 100 mil pessoas em todas as faixas etárias - o que indica morbidade e mortalidade importantes. Entre os anos 2000 e 2010, 62 mil pessoas abaixo dos 45 anos faleceram por AVC.
Ao analisar as estatísticas entre 2008 e 2012, no entanto, um estudo realizado no Brasil mostrou que a tendência é de estabilidade dos dados de incidência e mortalidade.
Especialistas dividem as causas em dois motivos principais:
Mudanças no estilo de vida. A camada jovem da população atual apresenta mais casos de obesidade, diabetes e hipertensão que antigamente - e essas doenças estão diretamente relacionadas aos acidentes vasculares cerebrais. Fatores como alimentação não saudável e sedentarismo causam as alterações genéticas que desencadeiam tais condições.
Avanços da medicina. Hoje há mais facilidade de diagnosticar doenças devido ao desenvolvimento de tecnologia de ponta. A ressonância magnética, por exemplo, foi um grande passo na visualização de AVCs pequenos que poderiam passar despercebidos há algumas décadas. Esse cenário fez com que mais casos fossem contabilizados.
É preciso levar em consideração algumas características específicas que aumentam os riscos de desenvolvimento da doença. No caso de AVC em jovens, os agravantes são:
Sexo. A incidência de AVC é maior em homens;
Doenças cardíacas congênitas ou adquiridas, como a fibrilação atrial, o infarto, as doenças nas válvulas e a doença de Chagas. Mesmo após a correção cirúrgica ou tratamento, continuam representando um risco de 9 a 12 vezes maior para AVC em jovens do que no restante da população;
Distúrbios metabólicos, como diabetes e obesidade;
Doenças vasculares, como vasculites;
Doenças no sangue, como linfoma, hemofilia e outras;
Anemia falciforme, causa mais comum de AVC em crianças;
Tabagismo;
Uso excessivo de álcool;
Ingestão de substâncias tóxicas, como drogas;
Estresse;
Sedentarismo;
Colesterol elevado;
Apneia do sono.
Um recente estudo divulgado pela revista médica The Lancet levantou a suspeita de que o excesso de trabalho como causador de estresse pode estar relacionado a um maior risco de AVC em jovens. Esse resultado pode ser explicado de maneira multifatorial: o excesso de trabalho faz com que a pessoa tenda a se alimentar mal, a fazer menos exercícios físicos e a ter menos tempo para cuidar de sua saúde. Além disso, o estresse pode também aumentar a incidência de hipertensão e diabetes.
Durante a pandemia de coronavírus, muitos jovens mudaram a rotina de trabalho presencial pela remota e, a confusão entre ambiente profissional e casa flexibilizou os limites entre expediente e folga. Além do excesso de trabalho, as preocupações relacionadas à pandemia também podem causar mais estresse nesse período.
Outro fator importante é o aumento de casos associados de Covid-19 e complicações causadas pela formação de coágulo de sangue dentro de veias. Isso pode explicar o aumento em 7 vezes de AVC isquêmico em pessoas com menos de 50 anos, sem comorbidades, que enfrentaram o coronavírus.
Com um estilo de vida saudável, é possível reduzir em até 80% os casos de AVC em jovens - o mesmo vale para adultos acima de 45 anos.
Alimentação saudável, evitando o alto consumo de gorduras e açúcares;
Prática de atividades físicas;
Controle da pressão arterial;
Controle da diabetes;
Controle do colesterol e triglicerídeos;
Evitar consumo excessivo de álcool;
Evitar uso de drogas;
Não fumar.
https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/neurologista-do-hcor-alerta-para-o-aumento-de-casos-de-avc-em-pacientes-jovens/ - acesso em 20/06/2022;
https://jornal.usp.br/radio-usp/coronavirus-e-suspeito-de-aumento-de-avc-entre-jovens/ - acesso em 20/06/2022;
https://revistapesquisa.fapesp.br/uma-doenca-assustadora/ - acesso em 20/06/2022;
https://saude.es.gov.br/Not%C3%ADcia/avc-e-cada-vez-mais-comum-em-jovens - acesso em 20/06/2022;
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2001000500017 - acesso em 20/06/2022;
https://www.einstein.br/doencas-sintomas/avc#:~:text=O%20Acidente%20Vascular%20Cerebral%20Isqu%C3%AAmico,rompimento%20de%20um%20vaso%20sangu%C3%ADneo. - acesso em 20/06/2022.
PP-UNP-BRA-0348