O mieloma múltiplo é um tipo de câncer que afeta os plasmócitos, as células responsáveis pela produção de anticorpos no organismo. Com isso, os plasmócitos anormais se multiplicam rapidamente e afetam a produção de células do sangue. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, esse tipo de câncer foi responsável por 176.404 novos casos e 117.077 mortes, em pacientes de ambos os sexos, no mundo todo. No Brasil, dados do Painel Oncologia Brasil mostram que, entre 2013 e 2019, foram diagnosticados anualmente cerca de 2.600 casos, em ambos os sexos.
Primeiro, é importante entender que a medula óssea é um tecido esponjoso no centro de alguns ossos que produz as células sanguíneas do corpo. O mieloma é um tipo de câncer de medula óssea e é chamado de múltiplo porque afeta várias áreas do corpo, como coluna vertebral, crânio, pélvis e costelas.
A causa desse tipo de câncer ainda é desconhecida. No entanto, existe uma estreita ligação entre a doença e uma condição chamada gamopatia monoclonal (MGUS), quando há excesso proteinas no sangue. No entanto, os principais fatores de risco são:
- Idade - mais comum em pessoas acima de 65 anos;
- Sexo - a incidência é 1,5 vezes maior em homens do que em mulheres;
- Raça - é duas vezes mais comum em pessoas afro-americanas;
- Histórico familiar - especialmente relacionados aos parentes de primeiro grau.
Antes de se tornar ativo, o mieloma tem dois pré-estágios, chamados de gamopatia monoclonal de significado indeterminado e mieloma multiplo latente.
Gamopatia monoclonal de significado indeterminado - É uma condição benigna que tem como caractéristicas um baixo nível de uma proteína - conhecida como monoclonal ou M - no sangue, e de células plasmáticas anormais na médula óssea, que num primeiro momento, não são capazes de formar um tumor e não apresentam nenhum indicador da doença, mas o risco de progressão para o mieloma é de 1% ao ano.
Mieloma múltiplo assintomático - Nesse estágio, os níveis de células anormais na médula óssea e de protéina M no sangue já são maiores, mas o mieloma é assintomático, ou seja, as pessoas têm contagens de sangue normais e não apresentam anemia, lesões ósseas, elevação dos níveis de cálcio na corrente sanguínea e lesões renais (CRAB). Os sintomas podem levar de meses a anos para começar a aparecer e por isso, muitas vezes, a suspeita pode ocorrer após um exame de sangue de rotina. A taxa de progressão é de 10% ao ano para mieloma multiplo.
Esse tipo de câncer não se manifesta como um nódulo ou tumor, em vez disso, ele danifica os ossos e afeta a produção de células sanguíneas saudáveis. Em um estágio mais avançado, o mieloma pode causar diversos sinais e sintomas, tais como:
- Dor óssea crônica - normalmente nas costas, quadris e arcos costais;
- Fadiga, fraqueza e falta de ar - devido à anemia provocada pela doença;
- Hipercalcemia (níveis elevados de cálcio no sangue) - causando sede extrema, dor abdominal, aumento da frequência urinária e constipação;
- Perda de peso;
- Anemia;
- Visão turva, dor de cabeça e tontura - causada pela hiperviscosidade, ou seja, pelo engrossamento do sangue;
- Infeções recorrentes - devido à baixa capacidade do sistema imunológico combater infecções de forma eficaz;
- Hematomas e sangramentos – sangramento nasal, sangramento na gengiva e períodos menstruais intensos;
- Problemas renais - como insuficiência renal, quando os rins não conseguem filtrar adequadamente os resíduos e excesso de fluidos do sangue;
- Fraturas - ossos frágeis que se quebram facilmente, além de formigamentos e fraqueza nas pernas.
Alguns fatores de risco podem aumentar a probabilidade de desenvolver mieloma múltiplo, como:
- Idade - a chance de ter mieloma múltiplo cresce conforme você fica mais velho, sendo que a maioria das pessoas recebe o diagnóstico quando tem mais de 60 anos.
- Sexo – os homens têm mais chance de ter a doença do que as mulheres.
- Raça - afro-descendentes têm mais chance de ter mieloma múltiplo.
- Histórico familiar - se um irmão, uma irmã ou um pai tem mieloma múltiplo, a chance de ter a doença é maior.
- Gamopatia monoclonal de significado indeterminado (MGUS) - o mieloma múltiplo quase sempre surge a partir da MGUS, então ter essa condição eleva o risco de progressão para a doença em 1% ao ano.
Existe uma variedade de exames, incluindo de sangue, de imagem e de urina, para confirmar o diagnóstico de mieloma múltiplo e determinar se a doença está em estágios iniciais ou avançados. Alguns deles são:
Hemograma completo - para avaliar, por exemplo, a contagem de glóbulos vermelhos e brancos e a quantidade de hemoglobina nos glóbulos vermelhos
Exames de urina – Avaliam e medem a presença de uma proteína especifica que é filtrada pelo rim e pode dar início a doença. São chamados de eletroforese de proteínas na urina (UPEP) e imunofixação da urina
Tomografia computadorizada e radiografia (TC) - exames de imagem que permitem a visualização detalhada de possíveis danos ósseos decorrentes da doença
Ressonância magnética (RM) - utiliza ondas de rádio e ímãs potentes para produzir imagens detalhadas dos ossos e coluna vertebral
Exame de cadeias leves livres – mede a quantidade de cadeias leves no sangue e é usado para diagnóstico, acompanhamento e critério de tratamento.
Exames para detecção de proteína monoclonal – A imunoglobulina produzida por células de mieloma são derivadas de uma única célula, o que é anormal. Por meio desses exames - chamados de eletroforese de proteínas e imunofixação sérica – é possível medir a quantidade de imunoglobulina no sangue e verificar se há algum anticorpo anormal, determinando exatamente qual é o tipo.
Biópsia de medula óssea - realizada para analisar a proporção de plasmócitos, células normais e anormais do sistema imunológico na medula óssea. Além disso, a amostra de medula óssea pode ser testada quanto a alterações genéticas que podem estar impulsionando o crescimento do câncer.
Esses testes são fundamentais para o diagnóstico do mieloma múltiplo, além de ajudarem a determinar o estágio da doença para que, assim, seja definido o tratamento mais adequado.
O mieloma múltiplo é um tipo de câncer que não tem cura. Por isso, o tratamento visa controlar a doença e melhorar a qualidade de vida do paciente, podendo envolver:
Medicamentos - para tratar os sintomas, como as dores e a anemia;
Quimioterapia - para destruir as células do mieloma e controlar a progressão da doença;
Radioterapia - para aliviar as dores ósseas, reduzir tumores localizados e os sintomas associados;
Imunoterapia - visa estimular o sistema imunológico para que ele desenvolva mais células de combate ao câncer.
Transplante de células-tronco autólogo - as células-tronco, que são encontradas na medula óssea e no sangue, possuem a capacidade de produzir novas células saudáveis.
Além do tratamento médico, é importante incorporar uma dieta saudável na rotina da pessoa que vive com mieloma múltiplo e é aconselhável não fumar, fazer exercícios físicos e cuidar da saúde mental.
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